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  1. Aug 2015
    1. Gugu está comparando a prática da santidade a uma técnica, como por exemplo uma arte marcial ou uma dança, que você no início treina e pensa cada movimento, mas as coisas não saem bem, porém depois de um certo tempo de treino os movimentos começam a sair naturalmente, e você não pensa mais -- aliás, se você pensar demais atrapalha.

      "quem é esse sujeito está fazendo esses movimentos?", pergunta Gugu (e o sujeito que está praticando).

      e a resposta de Gugu é Deus.

      "isso aí é Deus. e ele não está tão distante assim quanto parecia, ele é mais interior a mim do que a mim mesmo."


      vou escrevendo enquanto ouço aqui, então fica meio confuso, mas o negócio aqui é que o que eu estava chamando, seguindo Olavo, de razão espontânea, Gugu chama de Deus. será que só nesse caso, ou nos outros que eu identifiquei, como o do corpo sentindo vontade de fazer xixi quando está mais perto do banheiro? não é possível (ou é?), por no caso do xixi é uma coisa claramente física, uma função quase automática do corpo, mais típica dos exemplos tratados no livrinho do cérebro lá, do André.

      o caso das cartas e da mão que sua, do Olavo, é claramente físico ou não? e o caso do golpe de arte marcial, ou da flecha que acerta o alvo? essas coisas são físicas, envolvem um movimento físico, que pode ser matematicamente calculado e executado por uma máquina (ou não?), mas Gugu está dizendo que é Deus.

    1. a explicação do Gugu perto dos 10min lembra muito as explicações espíritas da Vivian no aspecto em que há, parece, um cálculo de "merecimentos" e "karmas" para cada pessoa que determinam cada coisa que acontece com cada pessoa -- que seria um cálculo impossível de ser feito.

      A diferença aqui é que quem opera esses cálculos é Deus, e não uma regra cármica (mas será esta diferença tão crucial assim? acho que a Vivian queria se referir mesmo a Deus e eu estava errado em dizer que o cálculo é impossível, porque para Deus ele não é impossível). Aliás, esta é a mesma regra à qual Robert P. Murphy aludiu fazendo uma comparação com teoria dos jogos.

      Outra diferença importante -- e, neste caso, crucial -- é que aqui não se trata de "merecimento". Deus não julga o merecimento aqui, mas (disto a Pollyanna vai gostar) o "sentido". Cada ato acontece na vida de cada pessoa segundo o julgamento de Deus se aquilo faz ou não faz sentido para a vida daquela pessoa: "o que é uma mensagem mais clara para a pessoa, que oferece para ela mais oportunidade para que ela perceba a realidade como um todo?". O critério do "sentido" significa, portanto, que todas as coisas que nos acontecem servem para nos fazer perceber a realidade como um todo.


      Gugu diz claramente, depois, que o mundo é "matematicamente regido por Deus".

    1. Gugu diz que não devemos fazer as coisas porque elas são boas, já que nós não podemos acrescentar bondade ao mundo. Deus já é infinitamente bom, e depois do nosso "ato de bondade" nós não podemos dizer que agora há "infinito + 0,1, que é o que eu fiz".

      René Guenón diz, porém, que no plano superior, o bom é o que persiste, e o mal é o que é transitório e mutável, por definição.

      Não sei como estas coisas se relacionam, porque enquanto eu escrevia o Gugu continuou falando na minha cabeça.

    1. "Todo o ciclo de causas intermediárias não pode determinar absolutamente, só o absoluto pode determinar absolutamente, este é um princípio metafísico básico -- todo ente opera segundo o seu ser, o ser absoluto opera absolutamente, o ser relativo opera relativamente --, por exemplo, se eu quero alguma coisa, isto não determina absolutamente aquela coisa, apenas relativamente". Diz Gugu, ecoando Pollyanna e sua velha dicotomia do que "influencia" versus "o que determina".

    2. Gugu também diz algo surpreendente na resposta a essas perguntas (algo que eu havia pensado há muito tempo, numa conversa por telefone com o Bruno, no quarto 2 do hotel, mas só como uma possibilidade remota, relacionando com mecânica quântica e todos esses breguetes): ele diz que se seu vizinho está escutando música alta é porque Deus deixou. e como é que ele "deixa"? ele deixa da mesma forma que ele poderia impedir: nós não conseguimos fazer tudo que nós decidimos fazer, porque coisas surgem pelo caminho e nos impedem. estas coisas são em número ilimitado e elas estão sob o "controle direto" de Deus. Gugu dá vários exemplos, como Deus provocando um sono enorme no vizinho, Deus quebrando o som do vizinho, Deus desligando a luz do vizinho. o surpreendente disto é que, segundo o Gugu, Deus então não tem um controle direto sobre todas as ações do vizinho, mas só sobre coisas periféricas, e ao mesmo tempo sobre essas coisas ele tem um controle "direto" (visível? como se a mão de Deus fosse lá e esmagasse o som?).

      Gugu diz claramente que há um "elemento de indeterminação no universo" e que a determinação do absoluto age aí para determinar tudo o que acontece. Tudo bem que há todo um "ciclo de causas intermediárias" que levam a todas as conseqüências (e, em suma, a tudo o que acontece), mas ninguém nunca vai conseguir retraçar esse ciclo de causas intermediárias, ou vai ter que retornar até a criação do mundo, mas que nesse ciclo mesmo de causas há "momentos cruciais" em que uma coisa (ele diz "sorte, ou falta de sorte" em outro momento) poderia ter acontecido de vários jeitos, e acontece de um jeito específico.

    3. mulher fazendo as perguntas "normais" para o Gugu sobre determinismo e livre-arbítrio.

      são abordadas coisas como se Deus quer ou não que nasça uma criança pobre em uma favela, se Deus tem culpa das coisas ruins que as pessoas fazem, e aquela coisa de Deus criar o ambiente, as leis cósmicas, e então das às pessoas o livre-arbítrio para agir como elas quiserem ali dentro, e a partir daí Deus não manda mais nada.

      todas as perguntas são feitas ao estilo "eu entendo que as coisas são assim". e depois de uma das respostas do Gugu a mulher diz "eu entendi, mas não concordo".